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  • Writer's pictureClara Novo

now believe in it.


A noite chamava-a. Estava pacífica, as estrelas brilhavam e a brisa gélida mal se fazia sentir.

Ela nunca fora uma “coruja da noite”. Ela sempre adorou o dia e a luz que o sol trazia com ele. Adorava as mais diversas cores como o azul do céu, o branco das nuvens e o verde das folhas. À noite tudo parecia igual. As cores fundiam-se numa só. Tudo era sombrio e aborrecido. E ela odiava-a.

Mas, por alguma razão, naquele dia tão normal da sua vida, a noite chamou-a e ela saiu pela porta de casa, como um íman, para as ruas da movimentada cidade. As luzes da rua iluminavam as calçadas cinzentas, desgastadas e sujas do uso humano. Os carros circulavam à sua volta e, ao longe, podia-se ouvir uma sirene. Ela não conseguia ver uma única pessoa. A cidade continuava tão caótica e tão ruidosa como durante o dia, só que vazia e escura.

Ela hesitou, com a mão na maçaneta da porta do prédio. Talvez fosse melhor subir as escadas e voltar para o seu quarto acolhedor e silencioso.

Não o fez.

Sem compreender bem o porquê, fechou a porta atrás de si e caminhou, com as mãos nos bolsos do seu velho casaco de ganga, pela rua fora. Foi quando contornou a esquina que conseguiu vislumbrar a lua no céu. Parecia gozar com ela, com a sua textura caricata de queijo suíço e com o que ela podia jurar ser um sorriso arrogante. Ela estava prestes a virar as costas à lua, quando, sem qualquer tipo de aviso, uma estrela cadente atravessou o céu de uma ponta à outra. Ela sabia que tinha de pedir um desejo.

Afinal, era o que as pessoas faziam quando viam estrelas cadentes, não era?

Ela fechou os olhos, sabendo exactamente que desejo pedir. Não era um desejo qualquer. Era tudo o que ela mais queria na vida, tudo o que sempre desejou desde que era apenas uma criança que brincava com bonecas… era a única coisa que lhe faltava.

Ela desejou amor.

Um suspiro esperançoso escapou pelos seus lábios quando voltou a abrir os olhos. Havia uma razão para ela não gostar da noite. Para além de escura, era fria e incerta. E era engraçado, pois parecia ser propositado. O seu coração estava escuro e frio, após alguém o ter quebrado.

Era algo peculiar, o amor. Tanto podia ser a melhor coisa do mundo, como a pior. Tanto a podia fazer sorrir ou chorar. Era incerto, como a noite. Foi aí, após aquela estrela cadente atravessar a sua vida, que ela compreendeu que não tinha de temer a noite e tudo o que se esconde nela.

Porquê?

Porque também há luz na noite. Na lua e nas estrelas. Por vezes, essa luz é impossível de ver, mas não significa que não exista. Está lá. Como o amor.

E ela estava prestes a encontrá-lo.

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